sábado, 9 de maio de 2009

Sete Fontes e política urbanística da Câmara de Braga sob fogo cerrado

As Sete Fontes e a política de urbanismo desenvolvida pela Câmara de Braga desde o 25 de Abril, foram os temas que pontuaram o debate promovido na noite de ontem pela CDU e que teve lugar na Junta de Freguesia da Sé. Contou com a presença de Miguel Bandeira, Sande Lemos (ambos já entrevistados no âmbito do nosso Projecto), do actor António Durães e de Luís Tarroso, fundador da Velha-a-Branca.

Sobre as Sete Fontes, Miguel Bandeira disse ser-lhe difícil encontrar adjectivos que não sejam indecorosos para resumir o que se passou no fim-de-semana passado, durante a Feira das Freguesias, em que a Câmara de Braga apresentou um estudo prévio para aquele conjunto arquitectónico.

Disse aquele docente universitário, membro da ASPA, que lhe parece estar-se perante uma atitude que vira as costas à participação da população o que, na sua opinião, é tanto mais grave quanto a Câmara de Braga “sabe, pelo menos desde a realização do primeiro PDM, em 1991, do que existe nas Sete Fontes”, pelo que devia mudar de atitude: “A participação relegada para factos consumados é recorrente, o que faz com que o cidadão não possa participar”.

Disse também que Braga é um dos municípios que não têm um Plano de Urbanização, “embora ele estivesse previsto no primeiro PDM”, só que, entretanto, o presidente da Câmara “deverá ter achado que não era importante e deixou de estar previsto”. Uma situação apelidada de errada por Miguel Bandeira, e que evidencia “a inexistência de um documento de compromisso político” para a cidade, o que permite várias atrocidades.

Sande Lemos, antigo presidente da UAUM e ex-director-regional do Instituto Português do Património Cultural (o corresponde ao actual IGESPAR), abordou a decadência das cidades, nomeadamente das do Império Romano, que começaram através da apropriação do espaço público, para fazer a analogia com Braga que “está em decadência há 30 anos, pois este período foi de oportunidades perdidas, de má gestão e de investimentos no cimento”.

Quanto às obra em curso na Av. da Liberdade – enterramento do túnel até ao edifício dos antigos “Correios” -, e do novo Hospital, na zona das Sete Fontes -, disse tratarem-se de investimentos “compreensíveis em países como o Brasil ou Angola, mas não em Portugal”. A justificação: “Qual o retorno de ambos os investimentos? Tenho muitas dúvidas de que possa existir!”.

Nesse sentido, disse que a apropriação do espaço público que está a acontecer em Braga, hoje, “é o mesmo que aconteceu nos séculos III e IV, só faltando encontrar moedas de Constantino!”.

Sublinhou ser imperativo o investimento na recuperação da memória da cidade – “seria impensável nos EUA avançar-se para uma obra como a da Av. da Liberdade sem que houvesse primeiro um referendo ou um debate alargado com a população”.

Sobre a crítica que o vice-presidente da Câmara de Braga fez àqueles que têm pugnado pela defesa das Sete Fontes, como a ASPA, a JovemCoop e a Junta de Freguesia de S. Victor, dizendo ser normal num ano eleitoral, Sande Lemos observou que se trata de uma forma de condicionar o próprio debate e a questão se deve colocar ao contrário: “É nestas alturas que tem que se discutir tudo!”. Uma ideia já deixada ontem na entrevista que nos concedeu e que, um destes dias, partilharemos publicamente.

Em relação ao local onde decorreu o debate, a sede da Junta de Freguesia da Sé, Sande Lemos disse estar por cima de uma antiga residência romana, “numa área que está para ser musealizada publicamente há cerca de dez anos e não se percebe a causa para que ainda não tenha sido concretizado esse plano”. Mais: ali perto, na Ínsula das Carvalheiras (ver Exemplos), aconteceu o mesmo com a inviabilização do projecto previsto para o local, promovendo a sua musealização.


Já sabemos onde temos que ir na segunda-feira: à sede da Junta de Freguesia da Sé, para captar imagens dos vestígios arqueológicos e contar a história de mais este sítio romano que, por alguma razão, tem sido impedido de ser partilhado com o público.

Sem comentários:

Enviar um comentário

A Direcção Editorial deste Projecto reserva-se o direito de não publicar os comentários considerados ofensivos.